Por Wilson Andrade* (13/10/15)

 

Há um assunto que está cada vez mais presente na agenda do dia: a crise de energia no país. E, apesar de todos estarem falando sobre isso, é preciso fazer mais e se concretizar possíveis soluções, como alternativa a curto, médio ou a longo prazo.

 

Outros países, vivendo ou em vias de viver uma crise semelhante, já nos deram alguns exemplos. O Japão programou e realizou o fechamento de todas as usinas nucleares. A Alemanha, seguindo este exemplo, programou o fechamento progressivo de suas usinas para daqui há 12 anos. E ambos estão apostando em energia renovável, bem como outros países do mundo.

 

Esta busca por alternativas energéticas se torna ainda mais urgente tendo em vista o veto presidencial aos artigos da Medida Provisória de número 656 que autorizava a prorrogação de contratos de fornecimento de energia, existentes há mais de 40 anos, com a Chesf – Companhia Hidroelétrica do São Francisco e as empresas eletrointensivas. Isso impacta profunda e negativamente nestas empresas que consomem muita energia, pois mais de uma terço do custo total delas é com energia elétrica.

 

Só na Bahia, temos quatro empresas eletrointensivas fortes, cada uma no seu setor: a Braskem na área petroquímica, a Caraíba Metais/Paranapanema na área de cobre, a Ferbasa na área de ferro-ligas e a Gerdau – única usina de siderurgia que temos. A presidenta Dilma, que tanto incentivava a indústria, mandou vetar a MP e, com isso, as empresas estão preocupadas. Com toda razão! Se essa energia não for fornecida como vem sendo feito, as empresas terão que ir para o mercado e vão acabar comprando a mesma energia por um preço bem maior. Isso inviabiliza a vida econômica das empresas, principalmente dessas eletrointensivas.

 

É preciso resolver este problema; caso contrário elas param. E com elas, todas as cadeias industriais, pois elas são estruturantes, cada uma no seu setor. Todavia, as empresas também têm que buscar alternativas. E são várias.

 

Devemos continuar com o projeto bem-sucedido do pré-sal, que é petróleo em águas profundas com baixo preço. Não vamos descartar os combustíveis fósseis. Também não devemos descartar os modelos tradicionais, como é o caso da energia elétrica proveniente das hidrelétricas, e nem mesmo a energia nuclear estagnada por muito tempo.

 

Mas aí surgem outras questões. Estamos com atraso na construção de hidroelétricas por falta de recursos, regulamentação e questões ambientais. E, além disso, atualmente temos o problema da falta de água… A energia elétrica das hidrelétricas era a segurança de todos nós. Mas ela precisa de chuva. E se não chover? Estamos vendo esta realidade (uma velha conhecida de algumas regiões do Nordeste brasileiro) agora também no Sudeste.

 

Então surgem novas alternativas que são as chamadas energias alternativas ou renováveis, como a energia eólica e a solar. Mas vejamos: a energia eólica precisa de vento e tem hora que não dispomos dele… A energia solar tem os custos multiplicados por dois, porque temos a situação que faz sol de dia e não de noite. Quantas horas temos de sol na placa, por dia? Apenas a metade. Mas por outro lado consumimos a energia durante todos as 24h de um dia. Usamos ar condicionado ao dormir, por exemplo, enquanto o sol está ‘desligado’. Isso sem falar que mesmo durante o dia, em determinados horários, o sol não é utilizado em toda a sua potência. Nuvens e outros fatores prejudicam a capacidade de captação da energia do sol na placa – que gera a energia que consumimos.

 

Mas uma novíssima alternativa já está sendo bem promissora, concorrencial e bem próxima de nós, brasileiros. Trata-se da bioenergia, a energia que vem da biomassa do bagaço de cana, do capim, dos resíduos florestais e, principalmente da madeira. E este último caso é o que se apresenta como boa opção, especialmente na Bahia. É a biomassa que vem de uma árvore mágica que dá tudo: o eucalipto.

 

Além de seus usos múltiplos já conhecidos – mais de 5 mil produtos -, o eucalipto encontra o ambiente ideal no Brasil e, em especial, na Bahia. Por suas condições edafo-climáticas, a Bahia uma das regiões mais aptas e produtivas do mundo. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 metros cúbicos, por hectare/ano. Na Bahia este número é de 45. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60. E tem mais: enquanto que outras árvores em países de alta expertise em florestas plantadas, como é o caso da Finlândia, precisam de 30 anos para o corte, aqui temos árvores prontas para serem usadas para a biomassa em 3 anos e meio.

 

O uso do eucalipto para a geração de biomassa já é fato e já temos, inclusive, alguns exemplos perto de nós, na Bahia. Um deles é o da Dow Química, com a ERB, que inaugurou uma planta de cogeração de vapor e energia gerados a partir de biomassa de eucalipto. O projeto é pioneiro no setor petroquímico e abastece a maior unidade da Dow no Brasil, localizada em Candeias (BA), com energia limpa, substituindo parte do gás natural. Este projeto já atende 25% da demanda de calor e energia que ela consome. Outro projeto é o do grupo Ático/Tree Florestal que vai investir na construção de uma termelétrica movida a cavaco de eucalipto, com capacidade instalada de 150 megawatts (MW), em São Desidério, no Oeste da Bahia. Outra unidade energética, com a mesma capacidade, será instalada em Vitória da Conquista.

 

Nenhum empresário pode confiar numa única alternativa para garantir o fornecimento de energia para sua empresa. Mas, muito mais que sobrevivência, a aposta em energias renováveis é um compromisso com o meio ambiente, com a sustentabilidade do negócio e também uma prova de visão empresarial.

 

 

 

* Diretor Executivo da ABAF. Contador, Economista e Professor de Economia Internacional com cursos de extensão no País e no exterior.