* Por Wilson Andrade

O setor de base florestal brasileiro continua com possibilidade de crescimento em termos de exportações e investimentos porque o setor recebe alavancagem de diferentes setores complementares que utilizam madeira plantada em seus processos produtivos, com destaque para: papel e celulose; construção civil; movelaria; mineração; e energia de biomassa.

A indústria de energia de biomassa de eucalipto é a mais recente e que tem mais a contribuir para a diversificação da matriz energética do estado, atendendo a demanda das regiões mais distantes e que dependem de investimentos de redes de distribuição, inclusive se levarmos em conta a matriz eólica ou solar. A quem menos exige unidades de transmissão é a energia de biomassa de eucalipto. E, na Bahia, já temos bons exemplos nesta área: a usina Campo Grande, em implantação em Barreiras, a unidade da ERB que funciona na Dow Química e atende boa parte da sua demanda em energia e calor; e a Solid – primeira fábrica de pellets de madeira da Bahia será inaugurada até junho. O empreendimento, do grupo baiano Solid Energia Renovável, está sendo construído em São Sebastião do Passé e vai produzir inicialmente 24 mil toneladas por ano. A capacidade total, no entanto, é de 48 mil toneladas.

E, mais, a utilização da energia da biomassa do eucalipto pode ajudar ainda mais outro setor que utiliza a madeira plantada na Bahia: a mineração. Na indústria de mineração do vanádio, por exemplo, que ainda usa combustíveis fósseis pode ser substituída pela energia de biomassa de eucalipto. No Brasil, até 2020, a produção de energia a partir de biomassa florestal deve chegar a 22 terrawatts-hora (TWh), o equivalente a quase 25% de toda a produção de Itaipu em 2015. A projeção para o uso energético da madeira é ainda mais promissora nas próximas décadas, até 2050, atingindo 70 TWh, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Também não podemos deixar de citar outro segmento que alavanca o setor florestal que é o da construção civil e movelaria. Temos, na Bahia, uma indústria modelo em madeira serrada que é a Lyptus e que está sendo reestruturada para melhor atender ao mercado internacional (que já é seu cliente) e também atender ao mercado nacional.

Estes exemplos de empreendimentos mostram como o setor de árvores plantadas na Bahia tem características que o fazem destacar diante de outras regiões produtoras. Uma delas é o fato de continuar crescendo anualmente em torno de 5%, muito acima da média de crescimento nacional. Este número, porém, poderia ser muito mais expressivo, pois a Bahia – com suas condições edafoclimáticas e pela tecnologia embarcada – tem recorde mundial em produtividade do eucalipto. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 m³/ha/ano. Na Bahia este número é de 42. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60.

Outra dessas características é o fato de estar produzindo em quatro polos distintos no Estado da Bahia (Sul e Extremo Sul, Litoral Norte, Sudoeste e Oeste) o que contribui – e muito – para a desconcentração da produção e da economia. Isso é muito importante porque gera riqueza e trabalho em outras regiões da Bahia, reduzindo a concentração da Região Metropolitana de Salvador.

Tudo isso – produção e processamento de madeira – vem sendo discutido e trabalhado em nosso Programa Mais Árvores Bahia: uma iniciativa da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), em parceria com entidades ligadas à agricultura, indústria e à qualificação de mão de obra. Busca incentivar o produtor rural a investir no plantio e manejo de florestas para uso múltiplo. Também pretende contribuir para a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira para uso múltiplo, visando o atendimento da demanda por móveis, peças e partes de madeira na Bahia – hoje atendida, na sua maior parte, por outros estados brasileiros.

Temos ainda outras características que são igualmente importantes economicamente, mas geram maior impacto no que diz respeito ao meio ambiente, compromisso social e qualidade de vida. Árvores plantadas são cultivadas atendendo a planos de manejo sustentável que tem como objetivo reduzir os impactos ambientais e promover o desenvolvimento econômico e social das comunidades vizinhas. Plantadas para evitar a pressão e degradação de ecossistemas naturais, as florestas energéticas contribuem para o fornecimento de biomassa florestal, lenha e carvão de origem vegetal.

Além das funções produtivas, os plantios de árvores desempenham importante papel na prestação de serviços ambientais: evitam o desmatamento de hábitats naturais, protegendo assim a biodiversidade; preservam o solo e as nascentes de rios; recuperam áreas degradadas; são fontes de energia renovável e contribuem para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa por serem estoques naturais de carbono.

Tudo isso também nos coloca em vantagem, inclusive, no que diz respeito ao Acordo de Paris. Por ele, o Brasil compromete-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, até 2030. Para isso, o país se compromete a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030.

A economia brasileira dá sinais que está voltando a crescer e isso é muito positivo para que possamos, inclusive, acompanhar a demanda de produtos oriundos das florestas plantadas. Esta demanda (mundial) cresce sistematicamente. De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o mundo tem um grande desafio: plantar 250 milhões de hectares adicionais de florestas para atender a demanda crescente por madeira e os produtos dela provenientes até 2050.

E o Brasil? Que parte vamos absorver disso? É importante que o Brasil se prepare para acompanhar e atender a parte dessa demanda. Temos todas as condições favoráveis para isso: alta tecnologia empregada no setor, disponibilidade de terra para novos plantios (temos cerca de 200 milhões de hectares de terras degradadas que, em parte, podem receber novas florestas plantadas). Considerando tudo isso, apostamos que grande parte dessa demanda mundial passe a ser atendida pelo Brasil e, esperamos pela Bahia, tendo em vista as características do setor em nosso Estado.

O crescimento econômico conta ainda com a expectativa de liberação dos investimentos estrangeiros no setor florestal que estão bloqueados há mais de quatro anos. Existem acordos desenvolvidos com a Casa Civil e as lideranças partidárias no Congresso para o retorno desses investimentos. A liberação da compra de terras por estrangeiros no Brasil deverá provocar um grande fluxo de investimentos no país, principalmente por parte de fundos internacionais em busca de rentabilidade segura e de longo prazo. Os investimentos estrangeiros em florestas plantadas podem ajudar a economia do país e da Bahia. Estima-se a possibilidade de investimentos no setor florestal na ordem de R$ 50 bilhões nos próximos cinco anos. E a Bahia, líder mundial em produtividade de eucalipto, deve trabalhar para assegurar boa parte desses investimentos.

* Diretor Executivo da ABAF. Economista e Professor de Economia Internacional.