Por Wilson Andrade* (29/03/16)

Hoje o mundo comercializa algo em torno de US$ 250 bilhões de produtos de madeira por ano. Apesar de todas as suas vantagens competitivas no setor, o Brasil participa com apenas 3% desse montante. Mas, se depender da iniciativa de algumas empresas e projetos, vamos começar a mudar o jogo. De acordo com os dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), por exemplo, a projeção para até 2020 é de termos a duplicação dos atuais sete milhões de hectares de florestas plantadas, com projetos de investimentos de R$ 53 bilhões.

 

Esta projeção leva em conta a alta produtividade da madeira plantada por hectare no país, que se dá pelas excelentes condições edafoclimáticas e pela alta tecnologia empregada e aperfeiçoada pelas empresas do setor, com base em experiências internacionais e parcerias com a Embrapa e pesquisadores nacionais.

 

Esse expressivo volume de negócios no mundo – e no Brasil – tem tido, nos últimos três anos, uma taxa de crescimento de 6% ao ano. A projeção é de igual ordem para os próximos anos, devido ao crescimento da população e à melhoria de renda que gera maior demanda e consumo de madeira. Somente na área de celulose e papel, podemos considerar a possibilidade de instalação de uma fábrica de celulose por ano no Brasil – cada uma com investimento de R$ 8 bilhões, plantio de 100 mil hectares de madeira e uma produção de aproximadamente 1,5 milhão de tonelada/ano.

 

E parte desse potencial brasileiro poderia ser instalado aqui na Bahia, cuja produtividade é recorde mundial. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 metros cúbicos, por hectare/ano. Na Bahia este número é de 45. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60, quase o triplo da Austrália.

 

Diante de tantos números positivos, a Bahia e seus municípios precisam decidir se vão concorrer para conquistar parte desse crescimento e trabalhar para isso de forma coordenada e intensa como numa força-tarefa objetiva, participando ainda mais do setor que já traz benefícios econômicos, sociais, ambientais, com geração de dividas e saldo positivo da balança comercial. E, o mais importante: esses empregos e esses investimentos que geram melhoria do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) seriam realizados no interior do Estado, ajudando a descentralizar o concentradíssimo desenvolvimento da Bahia. Analisando a evolução do IDH, nota-se que os municípios com operações florestais obtiveram melhoras significativas nos fatores utilizados para o cálculo do índice: educação, longevidade e renda. Entre os anos de 1991 e 2010, na Bahia, o crescimento do IDH dos municípios florestais foi de 84%, enquanto, o crescimento dos municípios não florestais foi de apenas 63%.

 

Além de tudo isso, essa expressiva oportunidade de investimento – captação de divisas, empregos, desenvolvimento social e ambiental – está hoje configurada principalmente pela celulose e papel, mas que representam apenas 1/3 do potencial existente. Os outros 2/3 das florestas plantadas no Brasil se destinam: metade para geração de energia e processamento de minérios e a outra metade para produtos para uso múltiplo, principalmente peças e partes de madeira para construção civil em geral, como tábuas, portas, móveis, pisos e MDF (madeira aglomerada) etc.

 

No setor de madeira para utilização da construção civil, por exemplo, a Bahia – apesar de sua vantagem competitiva – ainda importa, dos estados do Sul, a maior parte da sua demanda. É nessas áreas de base florestal, ou seja, que utilizam florestas plantadas como insumos (papel e celulose; mineração; energia e construção civil), que temos um potencial de investimento para alavancar a economia baiana de forma sustentável nos próximos anos.

 

Apesar da crise momentânea, as empresas de mineração que são eletrointensivas têm a necessidade estratégica de diversificar a matriz energética. O grande projeto de vanádio da Bahia ainda aquece seus fornos utilizando derivado de petróleo. Por outro lado, há um projeto exemplar: o projeto integrado da Ferbasa, completamente verticalizado porque tem o minério que extrai, as florestas plantadas como fonte energética e a metalurgia para produção de ferro-liga.

 

E esse é um caminho de oportunidade. Um estudo do NEO (Energy Outlook) feito pela Bnef (Bloomberg New Energy Finance) aponta que, nos próximos 25 anos, a utilização de fontes alternativas de energia (eólica, solar e biomassa principalmente na forma de cavaco) deverá saltar dos atuais 14% de capacidade instalada para 51% no país. No Brasil, US$ 26 bilhões serão direcionados à potencialidade da biomassa. A própria Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) pretende criar uma agenda estratégica para propor dinamismos para o setor de biomassa e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), no Estado, deve fazer o mesmo.

 

A demanda por produtos de madeira cresce a cada dia nos quatro polos de produção de eucalipto da Bahia – Sul, Oeste, Sudoeste e Litoral Norte – o que se configura uma boa oportunidade de negócio, principalmente se considerarmos que o Estado oferece um pacote de incentivos, além de a Bahia ser campeã mundial em produtividade de eucalipto. Além de atrair empresas do setor madeireiro para atender a demanda local, pretendemos contribuir para criar e divulgar uma série de incentivos e oportunidades para que a Bahia possa ajudar a desenvolver as já existentes no setor madeireiro.

 

 

Mais Árvores Bahia

 

Acreditando nessa tendência positiva, a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indústria e à qualificação de mão de obra, vem trabalhando com o Programa Mais Árvores Bahia que tem por objetivo a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira para uso múltiplo, visando o atendimento da demanda por móveis, peças e partes de madeira na Bahia – hoje atendida, na sua maior parte, por outros estados brasileiros. O programa atua em duas vertentes: Projeto Indústria e outro Projeto Produção, em quatro polos na Bahia – Litoral Norte, Sul, Sudoeste e Oeste.

 

O Projeto Indústria tem o objetivo de aumentar a competitividade dos micro e pequenos produtores e processadores de madeira (serrarias e marcenarias), primeiramente no Sul e Extremo Sul da Bahia – onde já existe uma tendência natural para este segmento.  Já o Projeto Produção (liderado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia/Faeb e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil/CNA) visa informar, orientar e capacitar pequenos e médios produtores para produção de madeira para uso múltiplo, notadamente serrarias e movelarias regionais.

 

Ambos os projetos do Mais Árvores Bahia contam com a coordenação local das entidades regionais que agregam os produtores de eucalipto: Aspex (Associação dos Produtores de Eucalipto do Extremo Sul Bahia), Assosil (Associação dos Silvicultores do Sudoeste da Bahia), Sineflor (Sindicato das Empresas Florestais da Bahia que atua no Litoral Norte), e Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, no Oeste).

 

 

* Diretor Executivo da ABAF. Contador, Economista e Professor de Economia Internacional com cursos de extensão no País e no exterior.