Maior produtora mundial de celulose de eucalipto, a Suzano se associou à startup finlandesa Spinnova em uma joint venture que vai competir no mercado global de fibras têxteis. A nova empresa construirá sua primeira fábrica na Finlândia, mediante investimento de 22 milhões de euros dividido igualmente entre as sócias, e entrará em um mercado de mais de 100 milhões de toneladas por ano.

A ambição da nova empresa é se tornar um player relevante no mercado têxtil mundial, competindo em custos e qualidade com o algodão e a viscose, com a primeira fibra têxtil sustentável do mundo produzida a partir de celulose microfibrilada (MFC) de madeira — fibra de celulose reduzida a dimensões nano.

O novo tipo de tecido “verde” é fruto de inovação disruptiva e, para a Suzano, o investimento marca a entrada em um novo negócio. “Não é um produto de nicho. Queremos escala, temos custo e competitividade. Vamos jogar o jogo dos grandes”, disse o diretor de tecnologia e inovação da companhia brasileira, Fernando Bertolucci.

De acordo com o chefe da área de inovação da H&M, Mattias Bodin, a varejista de moda utilizará em seus produtos a fibra têxtil também por causa do apelo sustentável. A adesão de um dos maiores nomes do varejo de moda mundial, com presença em mais de 70 países, contribui para a escalada da nova empresa.

Em entrevista coletiva, Bodin destacou que a H&M tem a ambição de se tornar uma empresa 100% circular e, para tanto, tem testado materiais sustentáveis em todas as suas marcas. “Acreditamos que a Spinnova [marca da nova fibra] vai contribuir para atingirmos essa meta. Não quero especular agora, mas vejo potencial de a nova fibra substituir materiais menos sustentáveis em uma ampla gama de produtos”, afirmou.

O executivo destacou ainda que a nova fibra têxtil foi testada com sucesso em diferentes aplicações do grupo. “Estamos ansiosos para dar o próximo passo”, observou.

A capacidade de produção inicial não é revelada por razões estratégicas. Grandes marcas de varejo, de acordo com o diretor de novos negócios da Suzano, Vinicius Nonino, já testaram a fibra (que levará a marca Spinnova) em seus produtos, com sucesso. “O mundo têxtil trabalha com ‘blends’. A meta é ganhar mercado e substituir outras fibras, até mesmo o poliéster, nesses blends”, explicou.

Suzano e Spinnova terão participações iguais de 50% na nova empresa, que terá equipe própria para comercialização de seus produtos. A Suzano é investidora na startup finlandesa e detém, hoje, 23% de seu capital.

De partida, a Suzano adiciona à nova empresa o custo competitivo da matéria-prima — a celulose da companhia tem o menor custo de produção do mundo — e conhecimentos da operação industrial em grande escala, entre outras competências. A Spinnova, por sua vez, entra com a tecnologia que possibilita a obtenção da fibra têxtil a partir da celulose microfibrilada de madeira.

“Acreditamos que essa seja a rota tecnológica mais promissora”, afirmou Nonino, acrescentando que a Suzano terá exclusividade no fornecimento de celulose microfibrilada caso a tecnologia da Spinnova venha a ser adotada por outras empresas.

A primeira unidade fabril da joint venture ficará na cidade finlandesa de Jyväskylä, onde funciona o centro de pesquisa e desenvolvimento da Spinnova, que atua na área de inovação em materiais, e uma planta piloto. Junto à unidade, a Suzano construirá uma fábrica de celulose microfibrilada que atenderá à produção da nova empresa — a celulose seca será embarcada pela companhia a partir do Brasil.

O investimento total, considerando toda a infraestrutura necessária ao projeto, incluindo o imobiliário, é de aproximadamente 50 milhões de euros. O imóvel será construído e alugado para a joint venture pela empresa de incorporação imobiliária Jyväskylä Jykia.

Em nota, o cofundador da Spinnova e principal executivo, Janne Poranen, diz que as marcas têxteis líderes estão buscando maneiras de minimizar emissões e construir uma base circular de material para seus produtos. “Nos sentimos orgulhosos de que em breve seremos capazes de fornecer às marcas nossa nova, disruptiva e sustentável fibra e tecidos”, afirma.

O projeto de celulose microfibrilada nasceu em 2017 na antiga Fibria, que foi incorporada à Suzano no início de 2019, e a matéria-prima usada pela Spinnova em seus testes foi produzida na fábrica de Aracruz (ES), numa unidade piloto com capacidade de duas toneladas por dia. “A ambição é chegar a centenas de milhares de toneladas”, reiterou Bertolucci.

 

(Fonte: Valor)