Por: Wilson Andrade* (2014)

 

O Oeste da Bahia, um dos mais importantes polos agrícolas do país, tem na base de sua sustentabilidade a matriz produtiva diversificada, na qual figuram como culturas principais soja, algodão e milho. Nos últimos anos, contudo, uma nova opção vem literalmente ganhando terreno no cerrado baiano: as florestas. Já são 60 mil hectares, segundo o Bahia Florestal – Anuário ABAF 2013, publicação lançada no dia 9 de julho de 2013 em Salvador, pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal – ABAF, com dados levantados pela empresa Poyry Silviconsult. Em termos absolutos, a área ocupada na região pelo eucalipto está ainda longe de ser significativa quando comparada ao 1,25 milhão de hectares correspondentes às plantações de soja e aos 256,5 mil hectares de algodão, ou, ainda, aos 2,2 milhões da área plantada total do cerrado baiano. Mas, empreendedor de verdade jamais julga um grande oportunidade por números absolutos.

 

Prova da evolução recente do eucalipto na região é que, entre os anos de 2009 e 2012, o mais importante anuário da safra do Oeste da Bahia, publicado pela Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), sequer citava as lavouras de eucalipto, colocando-as no tópico “Outras culturas”, o que já não aconteceu no levantamento da safra 2012/13 daquela Associação.

 

A expansão do eucalipto no Oeste nos permite diversas leituras. A primeira é que ficaram para trás os tempos em que as florestas plantadas eram sinônimo apenas de papel e celulose. As florestas do Oeste são, sobretudo, energia: geram calor para o beneficiamento de grãos, para mover turbinas e ajudar a alimentar a verdadeira locomotiva do desenvolvimento que é o agronegócio do cerrado baiano. Contudo, esse não é o horizonte único para a atividade naquelas plagas. Importantes empreendimentos agroflorestais têm se implantado no lugar, conduzindo novos experimentos e constatando a grande aptidão do cerrado para a silvicultura.

 

A introdução significativa do eucalipto na matriz produtiva do Oeste representa uma alternativa a mais de renda para o produtor nas propriedades, balanceando o mix de culturas e, consequentemente, ajudando a reduzir as perdas nas eventuais oscilações de preço de uma ou outra commodity ou frustrações de safra. Além disso, e talvez mais estrategicamente falando, as florestas plantadas são elementos essenciais em um contexto de implantação do Novo Código Florestal Brasileiro, principalmente nas fases iniciais de recuperação de áreas degradadas e recomposição de Reserva Legal. E os benefícios ambientais foram sobremaneira potencializados desde o lançamento, em março deste ano, pela presidente Dilma Rousseff, da Lei de Integração Lavoura Pecuária Floresta, que concede crédito a preços muito mais competitivos para quem integra estas culturas, dentro do Programa Agricultura de Baixo Carbono.

 

A Integração Lavoura Pecuária Floresta ainda tem muito a se expandir no Oeste da Bahia, trazendo como resultado benefícios creditícios, produtivos, ambientais e sociais. Trata-se de um sistema que se baseia uma relação inteligente e simbiótica entre as culturas. O sistema integrado permite que os insumos aplicados na lavoura em uma safra sejam a base de um bom pasto na outra. Otimiza a gestão da mão-de-obra, deixando-a ocupada durante todo o ano, evitando as demissões e contratações sazonais, reduz custos operacionais em geral, e ainda promove uma valiosa compensação entre emissões e sequestro de carbono. É a emissão da pecuária sendo compensada pelo sequestro acelerado de carbono promovido pelas florestas plantadas. Sem falar nos benefícios ao solo.

 

Todas essas técnicas fazem parte de um conceito maior, chamado Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que hoje vem sendo fomentado inclusive pelas instituições de crédito, como o Banco do Brasil. É um salto quântico se comparado ao que estas mesmas instituições faziam no passado: só liberavam crédito para atividades específicas em áreas específicas, gerando com isso a mais nociva das práticas da agricultura, que é a monocultura. O sistema ABC traz consigo o que o Brasil tem de melhor e no que o Oeste da Bahia dá show: a diversidade. É baseado em uma relação “ganha-ganha-ganha” para a agricultura, as florestas e a pecuária, mas, principalmente, para a natureza e o homem.

 

O Oeste da Bahia, dinâmico e pujante, tem tudo a ver com o setor florestal, a começar pelas suas condições edafo-climáticas que favorecem os recordes de produtividade em soja, milho e algodão, e que certamente repetirão o sucesso com as árvores. Na Bahia, o setor cresceu 2,6% e participou com, aproximadamente, 16% do total de US$ 11,5 bilhões das exportações estaduais, ocupando o segundo lugar em importância na pauta de exportações, e contribuindo com 49% (US$1,7 bi) para a formação do saldo da balança comercial do estado. Ele é responsável por uma forte apuração de tributos federais, estaduais e municipais, da ordem de R$1,1 bilhão. Gera aproximadamente 320 mil empregos, entre diretos e indiretos e de efeito-renda, sobretudo fora dos centros urbanos.

 

Os 60 mil hectares do Oeste fazem parte de um total de 617 mil hectares de florestas plantadas, equivalentes a cerca de 10% do total brasileiro, e a 1% do território baiano. Isso nos faz adiantar que, na “pizza” que representa a matriz produtiva do cerrado baiano, o eucalipto talvez nunca seja expressivo como a soja, o algodão e o milho, mas isso é o que menos importa, uma vez que nos orgulhamos de produzir muito, e gerar valor, em menos espaços. As florestas plantadas fazem parte da nossa vida, desde a nossa certidão de nascimento, até o nosso atestado de óbito, sendo ambos os documentos produzidos a partir de árvores plantadas pelo homem. Entretanto, elas ocupam um percentual mínimo e conservam em quase idênticos patamares as matas nativas, uma vez que a relação de proporção por hectare de floresta plantada por floresta nativa é de aproximadamente 0,7. Na Bahia, as empresas de base florestal são responsáveis pela manutenção e/ou recuperação de 430 mil hectares de florestas nativas.

 

As oportunidades não se restringem ao uso como insumo para o beneficiamento de grãos. Com o incremento na logística que representará a Ferrovia Oeste Leste, há possibilidades a médio e longo prazo para papel, celulose e mineração – esta última, se desenvolvendo a passos largos ultimamente. E, hoje mesmo, há muito o que avançar no setor de serrarias e movelarias, em uma perspectiva moderna e altamente eficiente. Dizem que o rio só corre para o mar e na “terra das oportunidades” do Oeste da Bahia, o eucalipto é um grande afluente.

*Diretor da Associação Baiana da Empresas de Base Florestal – ABAF.