A Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF) foi convidada para participar da discussão com o tema “Soluções baseadas na natureza para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas nos trópicos – oportunidades de investimentos públicos e privados” que fez parte na manha de 23/08 da Semana do Clima da América Latina e Caribe (Climate Week). Promovido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC) e apoiado pela Prefeitura de Salvador, o encontro regional na capital baiana (realizado de 19 a 23/08) antecede a reunião do clima da ONU, a COP-25, que será em dezembro, no Chile.

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, chamou a atenção para o uso da tecnologia no campo para que se garanta maior produtividade, além da recuperação de áreas degradadas com novos plantios florestais. “A madeira cultivada é importante também para desfocar o desmatamento”, disse.

Johannes Van der Vem, da Good Energies Foundation, destacou o uso da madeira na construção civil. “Nos próximos anos, com o boom esperado na construção civil na China e na África, este setor deve ser responsável por 15% das emissões de carbono no mundo. Precisamos diminuir a dependência do aço e do concreto e desenvolver mais a governança ambiental”, explicou.

Representando a Latin American Restoration – Initiative 20×20, Miguel Calmon afirmou que o Brasil será em breve o líder mundial em produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, pois possui excelentes condições de clima, solo e áreas para novos plantios. “Temos milhões de hectares de áreas de baixa qualidade para a agricultura em geral, mas que podem ser usados para novas florestas. Ou as usamos ou vão se degradar. Além disso, é importante aprender a lição com o setor de papel e celulose, por exemplo, para aproveitar a diversidade de madeiras nativas que temos e podem ser cultivadas para fins comerciais”, acrescentou.

“O setor de ponta no Brasil é o florestal”. Com esta declaração, Marcelo Furtado (Alana Foundation) iniciou sua fala que chamou a atenção para a necessidade de se trabalhar junto na mudança de uma economia fóssil para uma de baixo carbono, como é o caso da praticada pelo setor de base florestal.

Para o diretor da ABAF – que apoiou o evento -, Wilson Andrade, as florestas têm um papel fundamental na mitigação da mudança do clima, especialmente por remover e estocar carbono nas florestas e nos produtos, além de evitar emissões ao prover produtos e serviços de origem renovável, em detrimento aos de origem fóssil ou não renovável. “Os produtos de base florestal mantem o carbono estocado ao longo de sua vida útil. Além disso, para cada hectare plantado com árvores para fins industriais, outro 0,7 hectare foi destinado à conservação. E mais: a área com florestas plantadas no Brasil ocupa apenas 1% da área do país, mas é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais e que são consumidos em cerca de cinco mil produtos diferentes no nosso dia-a-dia”, acrescenta.

No encontro também participaram: Rachel Biderman (WRI Brasil), como moderadora; Ana Yang (Chatham House); Leonardo Fleck (Gordon and Betty Moore Foundation); Adriana Moreira (World Bank); Manoel Serrão (Funbio); Alexandre Prado (WWF); e André Guimarães (Brazilian Coalition on Climate, Forets and Agriculture).

Florestas plantadas – O setor de florestas plantadas no Brasil tem hoje 7,8 milhões de hectares de plantações com finalidade comercial. Estima-se que o estoque de CO2 equivalente do segmento, incluindo área cultivada e área plantada, seja de 4,2 bilhões de toneladas. Vale reforçar que as florestas em pé, sejam elas cultivadas ou naturais, têm um enorme valor. Remoção de carbono, regulação do fluxo hídrico, conservação do solo, entre outros serviços ambientais são fundamentais para produção agrícola e para qualidade de vida. 

A Bahia possui 660 mil hectares de plantações florestais e 440 mil hectares de florestas nativas destinadas à preservação ambiental (preservadas pelas empresas e produtores). Em resumo, o setor no estado também tem mais de 0,7 ha preservado para cada hectare de produção. O setor na Bahia, incluindo plantios florestais e áreas preservadas, sequestra algo em torno de 363 milhões de toneladas de carbono.

Andrade ainda chama a atenção para o Plano Nacional de Florestas Plantadas (PlantarFlorestas), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que prevê – entre outros objetivos – o aumento em 2 milhões de hectares a área de cultivos comerciais em áreas antropizadas, dentre elas pastagens e áreas sem vocação agrícola, mas boas para plantios florestais. “Com isso, esses novos plantios florestais contribuirão ainda mais para a mitigação de mudanças climáticas. Se bem planejados e implantados, como o plano prevê, esses 2 milhões de hectares podem ainda prover outros serviços ecossistêmicos interessantes, com conservação de solos e água. Tudo isso de acordo com as diretrizes de sustentabilidade que o setor florestal já trabalha. Devemos ainda considerar o compromisso brasileiro, nos acordos mundiais de combate às mudanças climáticas, de plantio ou replantio de 12 milhões de hectares de florestas e mais 5 milhões de hectares no modelo Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (iLPF)”, completa. 

A ABAF representa as empresas de base florestal do estado e seus fornecedores. Essa pluralidade dá à associação a possibilidade de planejar e agir com respaldo nos mais variados âmbitos e em horizontes largos. A indústria de base florestal usa a madeira plantada como matéria-prima para diversos produtos. A madeira utilizada é matéria-prima renovável, reciclável e amigável ao meio ambiente. Associados: Aiba, Aspex, Assosil, Bracell, Caravelas Florestas, ERB, Ferbasa, Floryl, JSL, Komatsu, Ponsse, Proden, Sineflor, Suzano, Veracel e 2Tree. Os dados do setor estão reunidos no relatório Bahia Florestal que a ABAF acaba de lançar e que se encontra disponível no site: http://www.abaf.org.br/sintese-do-setor-florestal-na-bahia/.