Ainda que incipiente no Brasil, o interesse pelo modelo de produção integrada sustentável (integração lavoura, pecuária e floresta – IPLF), em que produção agrícola, criação de gado e manejo de florestas plantadas ocorrem em uma mesma propriedade rural, vem crescendo; e está entre as contribuições brasileiras para o acordo do clima, feito em dezembro de 2015 durante a COP21, em Paris.

Há muito a se fazer para que a IPLF atinja a meta de cerca de 5 milhões de hectares (contra os atuais 2 milhões de hectares, segundo a Embrapa) de forma a contribuir para melhorar o quadro socioeconômico e ambiental das propriedades; aumentar os estoques de carbono na pecuária brasileira pelo cultivo de árvores; além de promover a mudança do sistema de uso do solo e aumentar o índice de produtividade .

Dos 851 milhões de hectares do território nacional, cerca de 66% estão cobertos por hábitats naturais, 23% ocupados por pastagens, 6,2% por agricultura e 3,5% por redes de infraestrutura e áreas urbanas, além de 0,9% de florestas plantadas.

Portanto, é um mercado que tem muito para crescer e benefícios a gerar. A diversificação da produção contribui para o aumento da renda dos produtores, que tem possibilidade de colheita em diferentes épocas, e favorece a proteção do solo, com culturas de diferentes idades em mosaico.

O eucalipto é uma das espécies de árvores mais utilizadas na ILPF devido ao seu crescimento rápido e a disposição de sua copa que permite a insolação para as culturas agrícolas e pastagens.

As florestas plantadas representam uma estratégia de aproveitamento de áreas marginais que beneficiam tanto a agricultura quanto a criação de gado, além de promover a inclusão dos produtores nos programas de fomento, iniciativa que oferece assistência técnica e garantia de compra da matéria-prima produzida pelo produtor rural.

Com estudos, pesquisas e tecnologia de produção sendo desenvolvidos nesta área, entende-se que a ILPF pode ser uma alternativa relevante para aumentar a produção de alimentos e a pecuária, sem necessitar de novas áreas, pela sinergia e forma complementar de uso da terra entre os componentes vegetais e animais.

Os passos nesta direção já foram dados, com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) criando redes de fomento e parcerias com o setor privado para acelerar a adoção por produtores rurais da integração lavoura-pecuária-floresta.

Os incentivos do País exigirão muita pesquisa para entender as demandas de cada região onde a ILPF será adotada, como o tipo de pecuária, as culturas agrícolas, as espécies florestais e se há mercado para os diversos usos da madeira

A Integração Lavoura, Pecuária e Florestas representa um grande compromisso do país e deve gerar diversos benefícios.

O sistema planejado é ecologicamente adequado, pois melhora a forma de uso da terra; economicamente viável, uma vez que é praticado de acordo com o perfil e os objetivos de cada produtor rural; e socialmente justo, pois dá a oportunidade de diversificar a produção e agregar valor a qualquer tamanho de propriedade.

As áreas de fomento florestal, onde muitas vezes as empresas apoiam a ILPF, possibilitam uma maior independência dos produtores rurais, que deixam de ter sua renda e atividade vinculada a uma única atividade , além de contribuírem decisivamente para a fixação do homem no campo, pelos ciclos mais curtos das culturas agrícolas.

Para chegar à meta proposta pelo governo e obter os benefícios do uso do sistema ILPF, faz-se necessária a implementação de políticas públicas de incentivos à produção, como aumento de crédito, diminuição de taxas de juros, seguro agrícola amplo e eficiente e remuneração por serviços ambientais.

Folha de São Paulo – opinião – 18/05/2016

ELIZABETH DE CARVALHAES é presidente-executiva da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores)