img11O trabalho já desenvolvido em outros estados com o objetivo de incluir os pequenos e médios produtores na cadeia produtiva das florestas plantadas tem sido o norte da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf) na articulação de um grupo de trabalho para criar um projeto voltado à realidade da Bahia. Neste segundo encontro, realizado em 26 de janeiro de 2015, o grupo (chamado GT-Integração) deu sequência à construção do programa de inclusão com dois focos principais: Produção em Consórcios como indicado no Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e com Uso Múltiplo da Madeira. “Estamos reunindo as experiências, além dos esforços de entidades parceiras para ampliar este programa, incluindo também a parte industrial do processo”, explica Wilson Andrade, diretor executivo da Abaf.

O grupo voltou a se reunir na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), em Salvador (BA) com a presença de representantes da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Sebrae Nacional e Espírito Santo, da Agência da Madeira (PR), do Senai Bahia e Paraná, do Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia (Moveba) e Associação dos Produtores de Eucalipto do Extremo Sul Bahia (Aspex), entre outros parceiros, que trouxeram suas experiências e contribuições.

O encontro foi iniciado pelo presidente da Faeb/CNA, João Martins, que declarou que a Bahia tem uma área muito grande para novos investimentos e está investindo cada vez mais em silvicultura. “Temos tudo para termos uma diversificação muito grande da madeira plantada. Até porque ninguém mais vai derrubar madeira nativa. Pela primeira vez, com o trabalho deste grupo, estamos no caminho certo de ampliar o uso da madeira plantada. Enquanto eu for presidente da CNA teremos este assunto como prioridade. E esta casa, a Faeb, está à disposição deste grupo, não só as instalações, mas também o pessoal”.

Camila Braga, da CNA, reforçou que o setor de florestas plantadas vive um bom momento, inclusive com o interesse direto da ministra Kátia Abreu (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento/MAPA). “O Decreto 8375, que foi publicado no final do ano, define uma política agrícola para florestas plantadas, que agora passa a fazer parte do MAPA. Com isso, podemos incrementar um dos nossos objetivos que é o de estimular a integração entre produtores rurais e agroindústrias que utilizem madeira como matéria prima. E é exatamente o que estamos fazendo aqui. Tudo isso está alinhado, inclusive com a ministra Kátia Abreu que confirmou que o setor é uma das metas do seu mandato. Ela, que também é produtora, está ciente das demandas e acreditamos que tudo isso renderá bons frutos”, disse.

Projeto – Neste segundo encontro, foram construídos dois núcleos de trabalho: um voltado para a Produção (liderado pela Faeb) e outro para a Indústria (conduzido pelo Moveba/Fieb). Eles voltam a se reunir em 05/02 para reunir informações e construírem os programas a serem aplicados em quatro polos na Bahia: Litoral Norte, Extremo Sul, Oeste e região de Vitória da Conquista. “Vamos definir o público-alvo, suas necessidades e ver o que podemos fazer por eles”, explicou Andrade.

Estas propostas tem como base o Programa Mais Árvores (CNA) que busca incentivar o produtor rural a investir no plantio e manejo de florestas comerciais para usos múltiplos com tecnologia aplicada. Uma das propostas consiste na aplicação imediata do Programa Mais Árvores (com algumas adequações que serão definidas pelos grupos nas próximas reuniões). E a outra é a criação do programa de médio prazo visando a integração dos dois lados da cadeia produtiva: produção de madeira e o processamento industrial para uso múltiplo da madeira.

Experiências – Oscar Artaza, do Fórum Florestal do Sul da Bahia, acrescentou que é preciso, além de ensinar a plantar e colher madeira, qualificar a mão de obra que vai trabalhar com esta madeira, em especial o eucalipto. “Boa parte dos marceneiros, por exemplo, não utiliza o eucalipto porque tem a informação que ele não serve. Isso se dá pela falta de conhecimento generalizado. Alguns marceneiros utilizam a madeira verde e, com isso, não conseguem obter o resultado desejado. A maioria não sabe o que fazer com a madeira do eucalipto e precisamos qualificar esta mão de obra”, disse.

O diretor executivo da Abaf lembra que a escolha do eucalipto não se dá á toa. “A Bahia, por suas condições edafo-climáticas, é uma das regiões mais aptas e produtivas do mundo. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção média de 23 m³/ha/ano. Na Bahia este número é de 45 e, em algumas regiões mais adequadas, este número chega a 60, quase o triplo da Austrália. Isso se dá pela alta tecnologia empregada e aperfeiçoada pelas empresas do setor, com base em experiências internacionais e parcerias com a Embrapa e Universidades”, explica.

O diretor da Agência da Madeira, Francisco Moreira, disse que esta realidade é a mesma encontrada na sua área de atuação, entre os municípios do médio Rio Tibagi (PR). “Qual o problema do pequeno produtor? É difícil pra ele atender alguns requisitos tecnológicos e também acredita muito em lendas, folclores. Ele não planta porque antes não precisava plantar, conforme aprendeu com seus pais e avôs. Para ele, as árvores nunca acabam… Além disso, existe uma cultura local de não fazer manejo para toras e só vender a madeira aos 6 ou 7 anos para a indústria da celulose. Isso veio com as grandes corporações que se instalaram no Paraná. É preciso ensinar a plantar e a trabalhar a madeira em outras finalidades”, completou Moreira dizendo ainda que já viu eucalipto no mundo inteiro, mas nenhum com a qualidade encontrada nas árvores do Sul da Bahia.

Este trabalho de conscientização e qualificação do produtor de madeira foi compartilhado por Flamarion Matos, da Aspex. “Motivar o produtor não é difícil, mas temos que dar um plano de negócio para ele. E também seguranças e garantias para que ele vá além da celulose”, disse. A Aspex atua no associativismo, desenvolvimento sustentável regional, valorização da atividade rural, desenvolvimento das pessoas, responsabilidade socioambiental e respeito às instituições. “Temos a Veracel como parceira âncora. Foi ela que nos incluiu e onde aprendemos bastante. Trabalhamos com o diálogo ente produtores e empresas na busca das melhores alternativas para o agronegócio, inclusive a diversificação de mercado para produção florestal”, concluiu.

Alguns exemplos do que pode ser feito pelos produtores na Bahia foi trazido do Senai/PR, por Adriane de Paul, que trabalha em parceria com a Agência da Madeira em Telêmaco Borba (PR). “Oferecemos cursos desenhados para atender aquela região específica. Temos ações bastante exitosas, como alguns prêmios que incentivam os produtores a criarem novos usos para a madeira. Selecionamos os projetos, qualificamos o produtor, fazemos análise de anterioridade (inovação da ideia), avaliamos os protótipos e assessoramos o produtor e elaborar a implantação do projeto. Tivemos ideias muito interessantes, como camas reforçadas para pessoas obesas, painéis decorativos colados de alta resistência, portas e acabamentos de resíduos de madeira, berços com dupla face, urnas funerárias com madeira plantada e certificada, etc,”.

Juliana Rodrigues, do Sebrae/Nacional apresentou a estratégia nacional para a carteira de madeira e móveis. Ela explicou que esta cadeia produtiva é muito complexa, mas a principal realidade dos pequenos produtores é que eles não podem competir com as grandes empresas. “É preciso ensinar o empresário que ele pode e deve trabalhar de forma diferente, buscando aquilo que não é o senso comum, o que ainda não foi alcançado pelas grandes empresas. Sem competir diretamente com elas, mas encontrando seu espaço e até mesmo trabalhar junto, como fornecedor, por exemplo”. E acrescentou: “É bastante satisfatório ver este movimento acontecendo, pois móveis é um segmento muito tradicional da indústria e está presente em todo o Brasil”.

Representando este setor na Bahia, João Schaun, do Moveba, disse que o sindicato quer viabilizar o crescimento da indústria moveleira na Bahia. Num recente estudo feito em parceria com o Senai/BA, na área de madeira e mobiliário, foram localizadas 1.178 empresas, de 14 modalidades produtivas, distribuídas na Bahia. Além da concentração das empresas na Região Metropolitana de Salvador (RMS), com 354, dois dados da pesquisa chamaram a atenção. “A segunda região com a maior concentração de empresas é em Paraguaçu/Centro, com 333. O outro aspecto interessante é a baixa quantidade no Sul do Estado, justamente de onde vem a maior demanda de solicitações”, explicou Schaun, colocando toda a pesquisa à disposição do grupo para auxiliar no trabalho.

Parceiros – Para este trabalho, a Abaf conta com os seguintes parceiros: CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), FAEB (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Fieb (Federação das Indústrias da Bahia), Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), Seagri (Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura da Bahia), SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia), Fórum Florestal do Sul e Extremo Sul da Bahia, Aspex (Associação dos Produtores de Eucalipto do Extremo Sul Bahia), Assosil (Associação dos Silvicultores do Sudoeste da Bahia), Sineflor (Sindicato das Empresas Florestais da Bahia), Sindimol (Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do Espírito Santo), Agência da Madeira (PR), Moveba (Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia),  UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia) e UFBA (Universidade Federal da Bahia).