Realizado em 03/10 no Auditório Jorge Amado na Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus (BA), o I Fórum de Eco-Nomia da Mata Atlântica trouxe importantes discussões acerca dos caminhos para alcançar atividades sustentáveis, em que seja possível desenvolver as atividades da região em termos econômicos e sociais, sem que para isso, agrida o meio ambiente. O fórum contou com a participação de consagrados nomes que norteiam esse viés de economia sustentável e que buscam explorar as vastas possibilidades de desenvolvimento econômico conciliado diretamente com a preservação de toda essa riqueza natural que o extremo sul da Bahia agrega.

Segundo um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 2015-2016 foi apontado um desmatamento de 29.075 hectares (ha) ou 290 km² nos 17 Estados do bioma Mata Atlântica – representado um aumento de 57%, em relação ao período anterior (2014-2015). “Se continuarmos nessa progressão, chegará o dia em que não haverá mais mata atlântica a ser desmatada, e com isso, a própria economia, derivada da agricultura e pecuária, tão presentes na região, também serão impactadas de modo negativo. Nesses moldes, percebe-se que não há possibilidade de desenvolvimento em longo prazo se não houver planejamento de conservação ao meio ambiente. Conscientizar para conciliar essas duas esferas é o único caminho para alcançar o tão sonhado desenvolvimento econômico que a nossa sociedade tanto precisa”, declarou Cristiano Villela (da comissão organizadora).

De acordo com Cristiano Villela, a região sul da Bahia é mundialmente conhecida por abrigar uma das florestas mais ricas em biodiversidade de todo planeta, e também pela produção do cacau, que cultivado à sombra de árvores da Mata Atlântica, contribui para a conservação da biota regional. “O evento teve como objetivo discutir a importância do imenso capital natural e também pontuar quais são os caminhos para alcançar a sustentabilidade ambiental, social e econômica da região”, completa.

O diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), Wilson Andrade, participou da Mesa 3 ‘Financiando para pesquisa e ações para a sustentabilidade’, com a palestra ‘O setor florestal como oportunidade de desenvolvimento sustentável e fomentador de pesquisas na região’. Segundo Andrade, os trabalhos desenvolvidos por universidades e instituições são fundamentais para a atividade florestal. “A parceria entre iniciativa privada e academia já provou que colheu bons resultados, como o aumento da produtividade por hectare, controle eficiente de pragas e uma convivência comprovada entre lavoura, pecuária e floresta. O setor é reconhecido pelo uso de alta tecnologia empregada e aperfeiçoada pelas empresas do setor, com base em experiências internacionais e parcerias com a Embrapa e pesquisadores nacionais”.

Para Andrade, além de tudo isso a academia tem muito a oferecer para melhorar as vantagens competitivas do setor. “Precisamos trabalhar para que o mercado atenda as demandas locais por madeira. Temos, aqui na Bahia, ótimas iniciativas no setor de celulose e papel, por exemplo, mas o mercado tem que se desenvolver de forma mais ampla. Precisamos produzir madeira para a construção civil e, por outro lado, mostrar para este segmento que madeira plantada é um ótimo material e pode ser até mais competitivo que os demais”, informou.

Ele reforçou que este trabalho já tem sendo desenvolvido, através do Programa Mais Árvores Bahia, pela ABAF em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indústria e à qualificação de mão de obra. “O programa tem o objetivo de incentivar a inclusão de pequenos e médios produtores no plantio, manejo e processamento da madeira de florestas comerciais para usos múltiplos. O programa trabalha, ao mesmo tempo, com três vértices: produtores de madeira; compradores e processadores de madeira; e consumidores finais (através das revendas de madeira, indústrias de móveis e construção civil). Com isso, visa atender também a demanda por móveis, peças e partes de madeira para construção civil na Bahia – hoje atendida, na sua maior parte, por outros estados brasileiros”, explicou.

Este programa ganhou mais uma área de atuação com a criação do Grupo de Trabalho (GT) Pesquisa em Madeira, formado por representantes das universidades da Bahia. Em reunião realizada dia 28/06/17 na Escola Politécnica da UFBA, o grupo definiu algumas ações prioritárias para otimizar a parceria entre a academia e as empresas do setor de base florestal. “Pretendemos que os alunos tenham uma visão mais ampla e positiva do uso da madeira plantada na Construção Civil e na Arquitetura. As empresas e a universidade podem trabalhar juntas em pesquisas que vão atender as demandas dos alunos, mas também do mercado”, declarou Sandro Fabio César, professor da área Disciplinar de Construções de Madeira do Departamento de Construção e Estruturas (DCE) da Escola Politécnica.

Cooperação com a Finlândia – Este ano a Finlândia comemora 100 anos de independência e, nas últimas décadas, vem diversificando sua economia. Atualmente é considerado um país de alta tecnologia. Entretanto, o setor florestal, que inclui inovações tecnológicas, continua a ser um dos pilares da economia finlandesa. No ano passado, as vendas de madeira macia ocuparam a 4ª posição no ranking das exportações finlandesas. As madeireiras finlandesas estão entre as mais modernas do mundo. Os processos são altamente automatizados.

“O setor florestal, no Brasil, também se vale de alta tecnologia e pesquisa e, por isso, estamos estudando a possibilidade de uma cooperação internacional entre a Finlândia, as indústrias de base florestal na Bahia e universidades. A Finlândia é a maior escola da tecnologia florestal no mundo e tem investimentos na Bahia, a exemplo da Veracel. Novas linhas de pesquisa podem interessar aos dois países na área de bioeconomia e de novos produtos de base florestal”, declara Andrade que também é Cônsul da Finlândia na Bahia e Sergipe.