* Por Wilson Andrade (abril 2017)

O setor de árvores plantadas na Bahia tem características que o fazem destacar diante de outras regiões produtoras. Uma delas é o fato de continuar crescendo anualmente em torno de 5%, muito acima da média de crescimento nacional. Este número, porém, poderia ser muito mais expressivo, pois a Bahia – com suas condições edafoclimáticas e pela tecnologia – tem recorde mundial em produtividade do eucalipto. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 m³/ha/ano. Na Bahia este número é de 42. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60.

Outra dessas características é o fato de estar produzindo em quatro polos distintos no Estado da Bahia (Sul e Extremo Sul, Litoral Norte, Sudoeste e Oeste) o que contribui – e muito – para a desconcentração da produção e da economia. Isso é muito importante porque gera riqueza e trabalho em outras regiões da Bahia, tirando o foco da Região Metropolitana de Salvador.

O setor de base florestal continua com possibilidade de crescimento em termos de exportações e investimentos porque o setor recebe alavancagem de diferentes setores que utilizam madeira plantada em seus processos produtivos: papel e celulose; construção civil; movelaria; mineração; e energia de biomassa. Estes setores terão recuperação com a expectativa de volta do crescimento do Brasil.

A indústria de energia de biomassa de eucalipto é a mais recente e que tem mais a contribuir para a diversificação da matriz energética do estado, atendendo a demanda das regiões mais distantes e que dependem de investimentos de redes de distribuição, inclusive se levarmos em conta a matriz eólica ou solar. A quem menos exige unidades de transmissão é a energia de biomassa de eucalipto. E, na Bahia, já temos bons exemplos nesta área: a usina Campo Grande, em implantação em Barreiras, a unidade da ERB que funciona na Dow Química e atende boa parte da sua demanda em energia e calor; e a Solid – primeira fábrica de pellets de madeira da Bahia será inaugurada até junho. O empreendimento, do grupo baiano Solid Energia Renovável, está sendo construído em São Sebastião do Passé e vai produzir inicialmente 24 mil toneladas por ano. A capacidade total, no entanto, é de 48 mil toneladas.

E, mais, a utilização da energia da biomassa do eucalipto pode ajudar ainda mais outro setor que utiliza a madeira plantada na Bahia: a mineração. Na indústria de mineração do vanádio, por exemplo, que ainda usa combustíveis fósseis pode ser substituída pela energia de biomassa de eucalipto. No Brasil, até 2020, a produção de energia a partir de biomassa florestal deve chegar a 22 terrawatts-hora (TWh), o equivalente a quase 25% de toda a produção de Itaipu em 2015. A projeção para o uso energético da madeira é ainda mais promissora nas próximas décadas, até 2050, atingindo 70 TWh, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Também não podemos deixar de citar outro segmento que alavanca o setor florestal que é o da construção civil e movelaria. Temos uma indústria modelo em madeira serrada que é a Lyptus e que está sendo reestruturada para melhor atender ao mercado internacional (que já é seu cliente) e também atender ao mercado nacional.

A economia brasileira dá sinais que está voltando a crescer e isso é muito positivo para que possamos, inclusive, acompanhar a demanda de produtos oriundos das florestas plantadas. Esta demanda (mundial) cresce sistematicamente. De acordo com a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o mundo tem um grande desafio: plantar 250 milhões de hectares adicionais de florestas para atender a demanda crescente por madeira e os produtos dela provenientes.

E o Brasil? E a Bahia? Que parte a Bahia vai absorver disso? Apostamos que grande parte dessa demanda mundial passe a ser atendida pelo Brasil e, principalmente pela Bahia, tendo em vista as características do setor em nosso Estado.

* Diretor Executivo da ABAF. Economista e Professor de Economia Internacional.