img15O workshop “Madeira para uso múltiplo – integração de pequenos produtores e processadores” foi realizado pela Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indústria e à formação e qualificação de mão de obra, em 18 de março, em Teixeira de Freitas (BA). Este workshop faz parte do Projeto Indústria, uma das vertentes do programa ‘Mais Árvores – Bahia’ que tem como base o ‘Programa Mais Árvores’ (da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil/CNA) e tem por objetivo incentivar o produtor rural a investir no plantio e manejo de florestas comerciais para usos múltiplos com tecnologia aplicada.

O workshop, realizado durante todo o dia no auditório do Lord Plaza Hotel de Teixeira de Freitas, reuniu cerca de 140 pessoas, entre produtores, consultores que trazem seu know how em tecnologia, novos processos, inovação, acesso a mercados, internacionalização e empreendedorismo; investidores; fabricantes de equipamentos; financiadores (Banco do Brasil, BNB, Desenbahia e CEF); Governo da Bahia (Sudic/SDE, SEAGRI), formadores de mão de obra (Faeb. Senar, Fieb, Senai), estudantes e professores. Entre os inscritos, interessados em aprender e/ou compartilhar experiência, vindos de toda a Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

“Este programa inclusivo e intenso deve gerar resultados no caminho do desenvolvimento do polo madeireiro do sul da Bahia, primeiro dos quatro polos com potencial para serem implantados na Bahia. Com este trabalho em Teixeira de Freitas colocamos na mesma sala os três vértices do triângulo produtivo: os produtores de madeira para uso múltiplo, os processadores de madeira (serrarias, fábrica de móveis etc), os usuários dos produtos finais de madeira (representados pelas revendedoras de materiais de construção e pelos sindicatos) e os maiores usuários da madeira. O objetivo é gerar resultados em termos de empregos, renda, crescimento sustentado com inclusão dos pequenos produtores e processadores.”, explica o diretor executivo da ABAF, Wilson Andrade.

Workshop

O diretor executivo da Abaf abriu a capacitação com uma explanação sobre o mercado de madeira na Bahia. “A Bahia tem uma produtividade média de 45 metros cúbicos de madeira por hectare, enquanto a média no Brasil é de 35 metros cúbicos por hectare e a média dos principais países não passa de 28 metros cúbicos por hectare. Isso significa muito e prova a grande vantagem que temos”, destacou.

Além de Wilson Andrade, a mesa de abertura contou com o gerente regional do Sebrae Alex Brito, o Secretário Municipal de Indústria, Comércio e Turismo Gedemácio Guimarães, representando o prefeito João Bosco Bittencourt; o Presidente da Câmara de Vereadores Tomires Barbosa e o presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia (Moveba), João Schnitmann. Em suas falas, os convidados frisaram a importância do negócio para o desenvolvimento da região, considerando a riqueza natural geográfica.

Durante o evento foram realizadas 10 palestras, com cerca de 20 minutos de duração cada. A primeira delas foi ministrada pelos engenheiros florestais da AMATA S.A Gilmar Bertoli e Luciano Sahaff e teve como tema “Madeira Certificada para Uso Múltiplo”. “No cenário atual existe uma pressão para abertura de novas fronteiras agrícolas e uma pressão para preservação das florestas. Por isso é preciso adotar um manejo adequado para a madeira, pois além de valorizar o meio ambiente teremos ainda mais eficiência e economia”, disse Luciano.

O segundo palestrante foi Marcelo Ambrogi, representante da IMA Florestal, que tratou de novas possibilidades para o produtor e processador florestal. “Além da celulose, que já somos bons, e dos móveis, ainda tem muito a se explorar. As novas cadeias já estão presentes no mercado, mas ainda há muito o que expandir como energia elétrica, biocombustível, combustível para avião, bioplástico, fibra de carbono e impressão 3D”, exemplificou.

A terceira palestra do evento foi sobre indústria de madeira realizada pelo representante da Moveba, Fernando Barreto. “A linha de fabricação de móveis é muito ampla, e não temos que dar destaque apenas para o MDF que oferece design, qualidade e durabilidade”, disse. Na sequência o representante do Senai Djalma Henrique Júnior, abordou a formação de mão de obra. “É preciso qualificação, formação dos profissionais e transferência de tecnologia, para o franco crescimento da indústria da madeira,” falou.

Depois foi a vez de o Fórum Florestal discutir sobre a organização do setor de artesanato, através do palestrante Oscar Artaza. “Em 2011 era possível ver um grande desmatamento na região, o que já não existe de maneira tão intensa, pois os artesãos já não trabalham mais com madeira nativa, e movimentam R$ 6 milhões por ano com o artesanato de eucalipto”, ressaltou. O vice-cacique da Aldeia Novos Guerreiros em Coroa Vermelha, José Roberto de Jesus também destacou durante a palestra os benefícios do uso do eucalipto. “Hoje temos a nossa reserva de madeira nativa que exploramos como destino turístico, com guias, trilhas, entre outros e o eucalipto supre nossa demanda de arte”, complementou.

Nicholas Petter Rogers, da Lyptus, tratou do tema desdobramento industrial do eucalipto. “Processar o eucalipto para produtos sólidos é viável e bem aceito pelo mercado, basta que a madeira seja tratada com objetivo específico, sabendo o tipo de tora, de qualidade e manejo adequado para cada produto”, frisou. Amanda Gomes e Luiz del Corral, representaram a Sudic e apresentaram o polo moveleiro de Teixeira de Freitas, a Amesul. “Foram investidos R$ 5 milhões pelo governo do estado em equipamentos, galpões e capacitação. Agora é preciso que os produtores, as empresas, toquem o negócio”, falaram.

Concluindo a parte da programação matutina o consultor do Sebrae Ricardo de Cerqueira mediou um levantamento de demandas do setor. “O objetivo é identificar os gargalos para que sejam dado os passos para consolidação da região como polo moveleiro e busca apoio nas parcerias para que as demandas sejam supridas”, apontou.

No período da tarde, foram retomadas as apresentações. Walter Eduard Rittershaussen, da Lyptus, fez uma apresentação sobre o volume total do mercado de madeira na Bahia. “São 280 mil metros cúbicos de madeira serrada por ano, sendo que o estado não produz essa totalidade, precisando trazer do Paraná e Minas Gerais, por exemplo. Isso demonstra que existe uma demanda de madeira muito grande a ser explorada”, disse.

Do Sebrae/RJ, Francisco Marins apresentou “Sebrae no Pódio e as oportunidades que as Olimpíadas e Paralimpíadas estão oferecendo para as MPE no Brasil”. “Esta é a primeira vez que pequenas empresas são convidadas a participar desse evento. Lugar algum isso aconteceu porque não existe um organismo como o Sebrae que é voltado para o pequeno e médio produtor. E a proposta das Olimpíadas no Brasil é deixar um legado econômico e isso não é possível aqui sem envolver os pequenos e médios produtores que é o segmento que mais gera emprego e renda no Brasil”, explicou. “Mas é preciso que os produtores estejam atentos à qualidade e à certificação porque as empresas estão cobrando e não é somente as do mercado internacional”, completou Francisco que é o coordenador nacional do Projeto Sebrae no Pódio.

Patrícia Orrico, do Centro Internacional de Negócios da Bahia (CIN/Fieb) falou sobre “Certificação, Identificação Geográfica e Internacionalização”. Empresa brasileira para competir tem que ser internacionalizada, usar processos competitivos e incentivar a cooperação industrial. Aproveitar a vinda de tecnologia de outros países. Tornar possível às empresas brasileiras os avanços já disponíveis em outros mercados. Esta região tem tudo para desenvolver produtos que possam utilizar a Indicação de Procedência. Para isso, os produtores podem definir critérios de qualidade do produto. Isso é uma indicação que o produto é dessa região e que por isso traz nele uma série de vantagens: todo o processo produtivo vai obedecer a critérios de sustentabilidade, responsabilidade social, melhoramento dos processos etc, tudo isso de forma de agregar valor ao produto. E isso é feito através de um associativismo.

No final, o consultor do Sebrae que esteve fazendo a moderação do trabalho, Ricardo Cerqueira, dividiu os participantes em dois grupos que debateram as demandas e objetivos. O grupo intitulado Produção destacou: manejo adequado e destinação da madeira; cooperativismo; assistência técnica; políticas públicas para o manejo da silvicultura; ações efetivas para coibir a comercialização da madeira ilegal. Criação de um fórum para que essas questões não se percam. O outro grupo, Indústria, escolheu: atendimento das demandas da sociedade pela universidade; assistência técnica; melhorias na gestão rural; design de produtos; prospecção de utilização de matérias-primas regionais; denominação de origem; programa de melhoramento genético que atenda esse uso múltiplo; acesso às novas tecnologias; investir no apoio da indústria de transformação; melhoria nas infraestruturas produtivas; identificação e prospecção de novos mercados; apoio para formalização; desenvolver cultura associativista; melhoria da gestão das PME; ferramentas de gestão de produtividade; certificação do produtor florestal.

No final, foram sistematizadas as propostas que serão desenvolvidas pelo GT Estadual. O próximo encontro será em reunião no dia 22/04, quando este grupo pretende fechar uma proposta que será transferida e discutida com o GT Local, criado durante o workshop.

Visitas técnicas

O grupo aproveitou a ocasião em Teixeira de Freitas para fazer uma série de visitas técnicas de forma a conhecer a realidade local e importantes experiências do setor. No dia 17, o grupo conheceu a Fazenda Gameleira, que se utiliza do sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), com eucalipto, café e gado. Localizada em Eunápolis (BA), a fazenda de Francisco Pikin é um bom exemplo de uma boa produção de eucalipto, por conta das condições de solo e chuva, aliados à tecnologia. “Nosso desafio é sair do monopólio que existe aqui no Sul da Bahia. Podemos apostar em variedades de eucalipto que atendam as serrarias, por exemplo”, disse Pikin.

Em seguida, o grupo visitou a Serraria e Caixotaria Litoral (localizada no município de Itabela/BA) que compra “sobras” de eucalipto e transforma em caixotes de madeira para acondicionar mamão – uma cultura importante na região. A empresa chega a produzir 12 mil caixotes por dia nos meses de alta demanda, mas depois o negócio passa por um período de baixa produtividade. “Temos problemas na entressafra do mamão que dura, em média, cinco meses. Não temos para quem vender nosso produto e isso nos causa problemas, além do desemprego. Precisamos que alguém nos mostre outras alternativas para o nosso negócio”, declarou o proprietário Ronieli Silva Nunes.

Na outra visita, no RE-Covre Eucaliptos, o grupo pode conhecer mais sobre o eucalipto imunizado. Localizada em Itabela (BA), a empresa faz o tratamento da madeira que fica totalmente preservada contra os ataques de insetos, cupins, brocas ou fungos de apodrecimento. “Trabalhamos mais com um tipo de eucalipto que é ideal para a construção civil e vendemos essa madeira, depois de imunizada, até para outros mercados, como Pará, Tocantins e Maranhão”, explicou Olival Covre, acrescentando que, além da construção civil, o eucalipto tratado é muito utilizado também no agronegócio (cerca, curral, estacas etc). Dos mesmos proprietários, a Plant Flora é um viveiro de mudas diversas de eucalipto com capacidade atual pra 3 milhões de mudas por ano.

A última visita de 17 de março foi na Eco Madeiras que também trabalha com eucalipto tratado, em Itamaraju (BA). Os sócios Adriana Dorigheto e o marido Thiago Pereira Bernardina apostam há apenas 1 ano e meio no negócio e estão bastante satisfeitos. “Nossos principais clientes são da área rural e para construção civil, mas já recebemos encomenda de eucalipto para ser usado em quebra-mar, ponte etc”, demonstrou Thiago.

Após o workshop, em 19/03, mais duas visitas pela manhã. A primeira foi na Amesul (Associação dos Moveleiros e Artefatos de Madeiras do Extremo Sul da Bahia), onde o grupo viu o potencial do espaço (com todo o equipamento necessário), mas que está sendo subutilizado desde o início. “Temos espaço para 25 empresas associadas, mas atualmente só trabalhamos com seis. A ideia era ser uma incubadora, mas não temos investimentos que nos ajudem a sair daqui”, informou o vice-presidente Pedro de Jesus. Um dos fabricantes de móveis ali instalado, João dos Santos, disse que costuma trabalhar com eucalipto e que às vezes recebe boas encomendas, como uma ocasião que fez 100 cadeiras para uma igreja, mas que a Amesul precisa agregar mais pessoas e empresas qualificadas para que o negócio alavanque.

Em seguida, o grupo fez uma visita à Lyptus, empresa de madeira nobre, totalmente extraída de florestas renováveis a partir de árvores plantadas. Atualmente, explicou o gerente geral Nicholas Petter Rogers, a empresa passa por problemas porque falta matéria-prima. “Estamos vivendo hoje os problemas que tiveram início há alguns anos quando os produtores pararam de plantar eucalipto. Precisamos que os produtores rurais plantem e manejem a madeira para serraria”, disse.

À tarde aconteceu a reunião no Fórum Florestal do Sul e do Extremo Sul da Bahia – espaço de encontro entre organizações da sociedade civil que tem como missão o permanente de diálogo da sociedade sobre as florestas no sul e extremo sul da Bahia – quando Wilson Andrade apresentou o programa “Mais Árvores Bahia”.

PROGRAMAÇÃO WORKSHOP – 18.03.15
08h00 – Abertura – Wilson Andrade/ABAF e Autoridades Convidadas
08h20 – Madeira Certificada para Uso Múltiplo – Gilmar Bertoloti e Luciano Shaff/ AMATA S.A.
08h40 – Novas Possibilidades para Produtor e Processador Florestal – Marcelo Ambrogi/ IMA FLORESTAL
09h00- Indústria de Madeira – Fernando Barreto/MOVEBA
09h20 – Formação de Mão de Obra – Djalma Henrique Jr./SENAI
09h40 – Organização do Setor de Artesanato – Oscar Artaza/Fórum Florestal da Bahia
10h00 – Desdobramento Industrial do Eucalipto – Nicholas Petter Rogers/Lyptus
10h30 – Apresentação do Pólo Moveleiro – Amanda Gomes e Luiz del Corral (SUDIC)
11h00 – Levantamento de Demandas – Ricardo de Cerqueira – Facilitador e Consultor do SEBRAE/BA
12h00 – Intervalo para Almoço
14h00 – Demanda de Peças e Partes de Madeira na Construção Civil – Walter Eduard Rittershaussen, da Lyptus
14h30 – Sebrae no Pódio e as oportunidades que as Olimpíadas e Paralimpíadas estão oferecendo para as MPE no Brasil  – Francisco Marins – SEBRAE/RJ
15h00 – Certificação, Identificação Geográfica e Internacionalização – Patrícia Orrico/CIN (FIEB)
15h30 – Levantamento de Demandas e Plano de Ação – Ricardo de Cerqueira – Facilitador e Consultor do SEBRAE/BA
17h30 – Conclusões e Encerramento

O Programa

O programa ‘Mais Árvores – Bahia’ tem como base o ‘Programa Mais Árvores’ (da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil/CNA) que busca incentivar o produtor rural a investir no plantio e manejo de florestas comerciais para usos múltiplos com tecnologia aplicada. Foi elaborado pela ABAF, em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indústria e à formação e qualificação de mão de obra.

“Este programa alcança vários objetivos: o programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), complementa o programa Madeira Legal (Sinduscon/SP) e contribui com uma demanda nacional que é a integração e a valorização do PME produtor e processador de madeira plantada”, explica Wilson Andrade, diretor executivo da ABAF.

O programa ‘Mais Árvores – Bahia’ será aplicado em quatro polos na Bahia – Litoral Norte, Sul, Sudoeste e Oeste – com duas vertentes. O Projeto Indústria (conduzido pelo Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia/Moveba e pela Fieb/Senai) visa sensibilizar o público-alvo e formar uma cadeia produtiva estruturada e consolidada nas regiões, através do processamento industrial para uso múltiplo da madeira plantada. Já o Projeto Produção (liderado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia/Faeb e pela CNA) prevê a aplicação imediata do ‘Programa Mais Árvores’.

Ambos projetos do ‘Mais Árvores – Bahia’, contarão com a coordenação local das entidades regionais que agregam os silvicultores: Aspex (Associação dos Produtores de Eucalipto do Extremo Sul Bahia), Assosil (Associação dos Silvicultores do Sudoeste da Bahia), Sineflor (Sindicato das Empresas Florestais da Bahia que atua no Litoral Norte), e Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, no Oeste).

Parceiros

Para este trabalho, a ABAF conta com os seguintes parceiros: CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), FAEB (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia), Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Fieb (Federação das Indústrias da Bahia),Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), Seagri (Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Pesca e Aquicultura da Bahia), Fórum Regional MPE, SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia), Sudic (Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial), Fórum Florestal do Sul e Extremo Sul da Bahia, Aspex(Associação dos Produtores de Eucalipto do Extremo Sul Bahia), Assosil (Associação dos Silvicultores do Sudoeste da Bahia), Sineflor (Sindicato das Empresas Florestais da Bahia), Sindimol (Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário do Espírito Santo), Agência da Madeira (PR), Moveba (Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia),  UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia) e UFBA (Universidade Federal da Bahia).