As tecnologias de controle biológico, como aplicação de inseticidas biológicos e uso e liberação de inimigos naturais (parasitoides de pupas e percevejos predadores) que já são comercializados para controle de lagartas em florestas foram alguns dos temas do webinário “Manejo de pragas florestais” que aconteceu em 30/06, às 17h30, com o engenheiro agrônomo, Professor Dr. Carlos Wilcken, do Departamento Proteção Vegetal, FCA/UNESP – Campus de Botucatu.

Este é o primeiro do ciclo de webinários “Capacitação do Agro” que o Sistema Faeb/Senar/Sindicatos realiza em parceria com a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF). O evento, que conta ainda com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Florestas) é aberto para todo o público do meio rural. Inscrições pelo site: eventos.sistemafaeb.org.br. Os outros temas serão: “Manejo de formigas em florestas plantadas” em 28/07, às 17h30, com o engenheiro florestal Ronald Zanetti; e “Sistema ILPF” em 25/08, às 17h30, com o pesquisador da Embrapa Florestas, Vanderley Porfírio da Silva.

De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, essas capacitações são fundamentais para qualificar cada vez mais os trabalhos dos técnicos, consultores e profissionais das áreas de ciências agrárias. “É muito importante também a participação de produtores e trabalhadores rurais, uma vez que o conhecimento ajuda a superar os desafios encontrados no agro. Essa parceria com a Abaf e a Embrapa Florestas possibilita que a gente reúna os maiores nomes do país, garantindo um conhecimento de alta qualidade para todos que participarem do webinário”. Ele acrescentou ainda que “o conhecimento é o grande impulsionador do campo e tem o poder de transformar, ainda mais, o nosso setor”.

Segundo o diretor da ABAF, Wilson Andrade, estes trabalhos são fundamentais para o agro e, agora, com destaque para a atividade florestal. “Este tipo de parceria traz bons resultados, como o aumento da produtividade por hectare, controle eficiente de pragas e uma convivência comprovada entre lavoura, pecuária e floresta. Nosso setor é reconhecido pelo uso de alta tecnologia empregada e aperfeiçoada pelas empresas do setor, com base em experiências internacionais e parcerias com a Embrapa e pesquisadores nacionais”.

Para Andrade, além de tudo isso, este tipo de iniciativa tem muito a oferecer para melhorar as vantagens competitivas do setor. “Precisamos trabalhar para que o mercado atenda as demandas locais por madeira. Temos, aqui na Bahia, ótimas iniciativas no setor de celulose e papel, por exemplo, mas o mercado tem que se desenvolver de forma mais ampla. Precisamos produzir madeira para o uso múltiplo”, informou.

Ele reforçou que este trabalho já vem sendo desenvolvido através do Programa Ambiente Florestal Sustentável (PAFS), uma parceria ABAF e ADAB. “O programa tem o objetivo de incentivar a inclusão de pequenos e médios produtores no plantio, manejo e processamento da madeira de florestas comerciais para usos múltiplos. O programa trabalha temas relativos à educação ambiental em diversas comunidades rurais: Uso Múltiplo da Floresta Plantada/Programa Mais Árvores Bahia; Regulamentação Ambiental das Propriedades Rurais (Código Florestal/ CAR/ Cefir); Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)/Plano ABC; Preservação dos Recursos Hídricos; Prevenção e Controle de Incêndios Florestais; Controle de Gado nas Áreas de Preservação; Combate ao Carvão Ilegal; e o Programa Fitossanitário de Pragas”, explica.

Manejo de praga

A ABAF lançou o PAFS em 2016 como ampliação do “Programa Fitossanitário de Controle da Lagarta Parda” (PFCLP), também lançado em parceria com a ADAB em 2015, visando o monitoramento e controle da lagarta parda no Sul e Extremo Sul da Bahia. Após os bons resultados alcançados pelo PFCLP, a aceitação dos diversos stakeholders e das empresas, a ADAB e a ABAF resolveram manter o PAFS, ampliando os tópicos a serem trabalhados.

Essa iniciativa veio após a constatação de que os plantios de eucalipto, café e de outras culturas localizados no Sul e Extremo Sul da Bahia podem sofrer com o ataque de lagartas, com predomínio da espécie lagarta parda (Thyrinteina arnobia), responsável pelo desfolhamento de plantas. Este inseto é nativo, com presença já registrada ao longo dos anos em 14 estados brasileiros. Especialistas acreditam que mudanças no clima e desaparecimento de inimigos naturais podem favorecer o aumento momentâneo da população deste inseto.

As lagartas – e as mariposas que elas se transformam – ficam normalmente nas áreas de cultivo. Uma das possíveis causas da presença dos insetos nas áreas urbanas, porém, é a forte atração que a luminosidade exerce sobre as mariposas. A atração pela luz é, inclusive, utilizada no controle de surtos esporádicos desses insetos por meio da instalação de armadilhas luminosas que atraem e apreendem as mariposas.

O controle à praga de lagartas nos plantios de eucalipto é realizado com o inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis. Trata-se de um produto biológico, de ocorrência natural, que controla de maneira eficaz as lagartas desfolhadoras. O produto é específico para lagartas, ou seja, não oferece risco à saúde do homem e animais. O mecanismo de ação do B. thuringiensis se dá através da liberação de toxina no sistema digestivo alcalino das lagartas e, por isso, é inofensivo a todos os demais organismos, inclusive aos pássaros que se alimentam das lagartas mortas.

Também não causam efeito de dispersão dos insetos para outros locais fora das áreas de controle. Além disso, preserva os inimigos naturais da praga, permitindo o estabelecimento do equilíbrio natural, assim que rompido o ciclo do surto atual. O produto (que é utilizado há mais de 70 anos) pode ser pulverizado de forma terrestre ou aérea e deve ser realizado sob rigoroso monitoramento de técnicos e de empresas especializadas.

Isso demonstra as práticas responsáveis das empresas para com o manejo florestal, preservação ambiental e respeito às comunidades circunvizinhas às suas operações. Estas iniciativas estão em linha com os padrões normativos internacionais, que orientam o uso racionalizado e previamente autorizado de produtos químicos.